sexta-feira, 23 de março de 2007
POÉTICA
Venho aqui pedir licença para expor um poema do nobre Manuel Bandeira...gosto muito deste em particular...
POÉTICA
Estou farto do lirismo comedido
do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
[protocolo e manifestações de apreço ao Sr. diretor
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário
[o cunho vernáculo de um vocabulário
Abaixo os puristas
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si mesmo.
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante exemplar
[com cem modelos de cartas e as diferentes maneiras de agradar
[ás mulheres, etc.
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare
- Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.
Manuel Bandeira.
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Um comentário:
Trabalhei esse texto do Bandeira ano passado no colégio. Simplesmente perfeito!
Adoro o apaixonar dos loucos. Adoro o meu lirismo.
xP
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