terça-feira, 30 de outubro de 2007

Venceslau

Venceslau
Seu semblante dolorido
Seu ar expurgo
Homem nojento

Barba mal posta
Sobre a face mal feita
Num desenho desproporcional
Tem um olhar de morte
Que chega a dar vontade de matar duma vez.

Este é seu prólogo:
Nasceu das entranhas usadas de sua mãe
Chorou depois de uns tabefes
Pra depois criar-se seco de choro
De tão largado...
Sem pai de fato,
A mãe?
Somente o pariu
Nascido em brasil com “b” minúsculo
Criou-se um crepúsculo ser.
Embebido em álcool e desesperança

Em nada crê
Não teme um Deus
Nem vê no voto uma salvação.

Tudo para este infeliz
Resume-se á uma noite mal dormida


Danilo Cândido.

domingo, 28 de outubro de 2007

Poeta pós-moderno.


Poeta do hoje, que imprime no verso da folha digital
Seu rosto em fonte “arial 12”
anexada num e-mail endereçado ao outro mundo.
Dilemas iguais aos dos demais poetas
Bebe no ontem seu gosto por ela
Cospe na folha um mundo e o carrega.
Frutos da invenção pós-moderna
Tecla nos dedos, olhos na tela
Sou filho dela, inda em formação...

Poetas e poetas!
Será que Oswald de Andrade
Pararia pra me ler?


Danilo Cândido.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Asco

Minha aversão destoa
Como faz o vento,
cria voz num zunido
que não se traduz.

Vem-me à boca um asco
Um casco de asno
Num semblante infeliz de paisagem
Sem dor.

Pouso num nada e passo a filmar
esta gente...
Os furtos, os fartos dos roubos
Os da gravata, os do “fumê”...

Os da vidraça, os do morro
Os que matam...
E os que vão morrer.

Decantar em desencanto
Uns cantos com refrão de paz,
pra quem sabe
dar sentido à luta e sair bem visto.

Pra depois...
Os da farda
Os da farsa
Os da forra
Darem o tom.

Na soleira do meu nojo
Meu invento ressoa
Pra dar nota ao protesto
Lê-se aqui manifesto
Deste abrigo de ratos
Codinome Brasil.

Danilo "brasileiro" Cândido. 2007.

Tropa de Elite!




O filme Tropa de Elite é um sucesso nacional. Antes de ser lançado no cinema, grande parte dos brasileiros já tinha acompanhado as aventuras do “rambo brasileiro”, capitão Nascimento. Com ímpeto, garra e bravura ele mostra como devem ser tratados os “freis Titos” do sistema, mostra como a tortura é um elemento fundamental para se conseguir algumas informações. O público vai à loucura, adora, pois marginal tem que matar mesmo. O Luciano Hulk já disse: chama o “capitão Nascimento”, só ele para nos salvar. Pois é...imaginem um monte de Nascimento nascendo por este Brasil brasileiro, e o monte de sacos sendo utilizados em nossas delegacias. Vamos torcer também para que eles ataquem os consumidores de drogas, sim! São esses maconheiros que financiam a violência no país. Tá certo, o filme que metade dos brasileiros assistiram era uma cópia pirata, mas cópia pirata pode, maconha não. Maconheiro tem que ir preso, principalmente se for universitário, esse sim, é quem mais financia o tráfico. Assim disse o maior exemplo de imparcialidade da imprensa escrita no Brasil, e veja que eu nem li a reportagem. Mas a Veja é como Luciano Hulk, não dá para acreditar neles, poxa!a revista Época estampou em sua capa: “Ele merecia ser roubado”?, o taxista pode, o motorista de ônibus pode, o moto-boy pode, enfim todo brasileiro pode ser assaltado, o “Lu” não. E se for, chama o capitão Nascimento, ah e não esqueçam, quando apanharem na cara da polícia não se preocupem, a sociedade está do lado da truculência policial, e quando a sociedade apóia, apanhar fica mais tranqüilo, no meu caso não vou chamar o capitão Nascimento, vou chamar o Ojuara, que além de ser mais divertido, é uma ficção, já o Nascimento...

Por Ricardo Câmara.(graduando em Geografia / UFRN)

domingo, 21 de outubro de 2007

Submerso

Há de vos ter bem nas entranhas
Que a estranheza não esconde
Altar na ponte
Logo debaixo, um mundo-mar

Mundo este, que me há de servir
Como sentença analógica (de analogia)

É como o eu, que se perdeu
Ante este breu de inconsciência.
Que afundo, ao fundo das tais águas de sal.

Indecência vossa é não me crer como verdade
Sou mesmo o mar,
Sou mesmo o mundo
Um ser imundo
Um desigual.

Da abissal profundidade deste habitat...
À terna vida que hei de ter à superfície

Se o mesmo vazio aguado meu
chamam de mar
Eu chamo de “eu”
Tudo isto que vos disse.

Danilo Cândido(20/10/2007-03h)

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Minha sina.

Estes tais, que a ler me ponho
-poemas-
São os emblemas de meu percurso em terra firme
Os pés, são passos por sobre os pontos e as reticências...

Estes tais, que ao ser proponho
-poesias-
São a alegria e a destreza que se perde deste menino

Me torno um hino
Soar de sinos,
e a minha sina será só esta.

Danilo Cândido. outubro 2007.

Campo minado

pé sobre o outro
fé sobre o passo

campo minado.

mina no campo
corpo do lado

fé sobre o outro
pé sobre o passo.

Danilo Cândido.2007.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Híbrido


O amor é híbrido
Quase desumano
Malsoante e íntimo

Sinto, como sinto necessidade
De ir ao banheiro
Nada romântico, eu sei
Mas nem sempre o amor é tão romântico
Às vezes nunca é.

É mesmo uma droga,
E o vício que nasce dela.


Danilo Cândido.


*imagem: Amour de Danièle Jasselin.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

FRUSTRANTE.

Isto aqui nada mais é, que a falta que me falta ter,
nada mais é, que a persistência minha de jamais deixar um branco vazio.

Isto é nada.E o que é?

É o pulo do alto da ponte.
É um ponto no meio da frase.
É o corte talhando a carne.
É um corpo estirado na pista.

Nada disto.É apenas a minha frustração.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Defino a mim mesmo, como um fino pedaço de qualquer coisa que a qualquer momento se romperá, resultando num outro pedaço de qualquer coisa que não servirá para nada.

domingo, 7 de outubro de 2007

Desejo e ecolalia

- O que é que você quer ser quando crescer?
- Poeta polifônico.

1995.


Waly Salomão. Do livro Algaravias: Câmara de ecos.

"Indefinida-mente"


Que a poesia polifônica do Waly soe cômica,
ultrasônica e ressonante,
não distante como um japonês.

Não desconsiderando meu próprio instinto
e a minha eterna e íntima crença no infinito
e nas cores do universo inteiro.

Eu marco cada passo,
como quem monta a cabeça quebrada
do quebra cabeça.

A cada pronúncia poética,
me perco mais um milésimo de segundo daqui,
me sinto um disco-voador...
e cada vez que desapareço eu pareço mais longe.

Sinto que sinto...que estou cada vez mais perto do indefinido.




Danilo Cândido, mais um dia...menos um, deste outubro.

sábado, 6 de outubro de 2007

...(inda sem título)

Ode aos ratos
Aos monges
Aos maços de cigarro
Aos fumantes

Aos distantes
E a ponte
Que aponte o outro lado

Que outro?
Que lado?

Sei que regirei com voz altiva
Qualquer que seja a tentativa
De me deter

Pode ser que mate
Ou somente deixe morrer...

Que a rima idiota e incipiente
Não me vença por modismo
Ou comodismo

Que da regra se fuja...
Ao menos aqui
posso escrever qualquer coisa
que me vier à cabeça.


Danilo Cândido.

abandono

Tu não devias na noite deixar
Como se deixar fosse trazer-lhe um bem

Seja um não que confesso
Seja meu mundo inverso
Que seja...
Nos três pontos
Que apontam idéias
Tudo ficará
Bem no meio das mais loucas idéias

As vezes escrevo sem juntar
Mas quando junto é como se tivesse pensado bem.


Danilo Cândido.

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

O vidro.



O vidro bem desenhado é vidraça.

A traça não pode comer o vidro.
Mas o vidro pode esmagar a traça.

Então traça teu rumo, passa...
...bem longe do corte do caco do vidro,
Ou então deixa cortar
Pode ser que sejas fã de uma desgraça
E o vidro sob o toque avermelhado do sangue,
Pode até ficar mais bonito.


Danilo Cândido.outubro.

terça-feira, 2 de outubro de 2007

O desuso da musa.

Vou deixar a musa de lado.

-Ode à bela e ao triste amor de sempre-

Que ri, e que dói, e corrói...
É quase sempre regra para os poetas
E daí?
Daí que vou ser menos açúcar
e serei mais fel.
Cairei junto com ela
em desuso pleno,
não mais que pleno e deplorável.
Pobre musa que só ela...

-Quem alimentará seu ego volátil?

Danilo Cândido.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

(ím)par.


Uns são par, então dois... são ímpares?

Que sei é que não sou todo rima,
mas pretensiosamente
posso crer ter nascido poeta.
Senão, não me era tão viciado,
viciado em denotar beleza
onde só há um cinza tom de morte.

Danilo Cândido. 1º de outubro.

Se acho, é porque não tenho certeza.

Aos que não me entendem

Se fosse pra entender na primeira linha
Seria linha do trem
Ou a linha do horizonte
Eu não seguiria nenhuma linha de raciocínio
Seria qualquer coisa, escrita de qualquer jeito.


Danilo Cândido.

SENTIDO


Entre a minha (de)existência
ante as tuas verdades,
e a insistência em querer a fuga.

“Co- romperam” teu discurso profético.
Não é ético adivinhar ou ser profeta,
vão lhe taxar de macumbeiro,
desordeiro, homem do cão!

Porque somente Jesus
pôde lançar suas apostas?

Digo isso pelo direito igual
pelo banal, ao vazio...
...vazio este, que me enche a cabeça,
de qualquer coisa com pouco sentido.
Desisto de ser causador do futuro,
quero fingir que vivo, pra quando morrer
nem me dar conta.


Danilo Cândido, assim, neste novo outubro.